ENTERRO
Abril/2008

A
banda Enterro é uma banda de Black Metal do Rio
de Janeiro que se apresentou em Campinas, no Hammer Rock
Bar, no dia 20/03/2008, tocando com Laconist e Vader.
Eles estão lançando o primeiro CD, e conversei
com o vocalista Nihil e com o guitarrista Doneedah:
1- Bom, vamos começar da seguinte maneira: Sabemos
que o Enterro é uma banda de Black Metal, e sabemos
que o Black Metal é sinônimo de anticristianismo,
satanismo, niilismo, paganismo ou ainda de ocultismo.
Então, eu gostaria de saber se essa é uma
crença de vocês, uma ideologia, se vocês
realmente seguem esse tipo de dogma no cotidiano, ou é
só uma idéia adotada pra fazer música?
O sentimento de ódio que o Black Metal
permite expressar é único no Metal, como
é único na história da música.
Nós não acreditamos em instituições,
religiões, crenças e muito menos em mitos.
Simplesmente entendemos a vida como um grande erro e que
absolutamente nada possui de valor. Vivemos com isso em
mente e expressamos a idéia através do Black
Metal.
2-
Quando e como nasceu esse tipo de crença?
Vemos o mundo como um palco ridículo para
toda sorte de idiotas. Você nasce entre idiotas,
cresce com idiotas e, com o tempo, sente mais e mais ódio
de cada ser vivo que existe sobre a face da Terra.
3-
Vocês sempre gostaram de Black Metal, ou gostam
também de outros gêneros do Metal? Quando
o metal surgiu na vida de vocês?
Existe uma grande diferença entre música
para entretenimento e Black Metal, que é algo que
se professa. Existem muitos tipos de música agressiva
mas Black Metal é, na verdade, um estado de espírito.
4-
O release trata a banda, a princípio, como “um
projeto” que se limitava a uma sala de ensaio, o
que dá pra entender que vocês estavam ali
com uns amigos, se divertindo e tocando por prazer, sem
maiores compromissos ou aspirações. Por
quanto tempo vocês mantiveram a banda ‘reclusa’
num estúdio, e quando decidiram que já era
hora de cair no mundo?
O Enterro se manteve por dois anos limitado ao
estúdio porque não tínhamos nenhuma
intenção de tocar pra ninguém. Com
tempo, mais e mais pessoas acabam conhecendo o seu trabalho
e alguns convites são difíceis de recusar,
com abrir para o Marduk em Campinas ou o Behemoth em São
Paulo.
5-
Vocês enfatizam o ‘niilismo’ em seu
trabalho. “O Niilismo é a desvalorização
e a morte do sentido, a ausência de finalidade e
de resposta ao “porquê; prevalecem os traços
destruidores e iconoclastas, como os do declínio,
do ressentimento, da incapacidade de avançar, da
paralisia, do “tudo-vale” e do perigoso silogismo:
se Deus (a verdade e o princípio) está morto,
então tudo é permitido". Como não
tivemos acesso às letras das suas músicas,
podemos dizer que o Enterro enfatiza mais o conceito filosófico
que afeta toda a existência do mundo, ou seja, vocês
se preocupam mais em filosofar sobre essas existências
do que pregar o satanismo propriamente dito?
Certamente. O Enterro serve a uma grande catarse,
como uma forma de vomitar tudo de podre que a realidade
nos faz engolir. Não acreditamos em nada que tenha,
de alguma forma, sido pensada e articulada pelo homem.
Para nós, a verdade está na ausência
das coisas, no fim de tudo, na morte e no silêncio.
6-
O que eu sei é que vocês cantam em inglês.
Então por que o nome da banda é em português?
Quem decidiu por esse nome e por quê?
Enterro é uma palavra que carrega em si
uma idéia de pesar muito forte. Enterro significa
morte, tristeza, lamentações, sofrimento...
É a celebração do fim da vida! Acreditamos
ainda que o fato do nome da banda estar em português,
em nada muda a universalidade da nossa mensagem.
7-
Sabe-se também que alguns dos integrantes tocam
no Matanza. Quem são? E como aconteceu esse encontro?
São eles Doneedah e Ozorium, respectivamente
guitarra e baixo no Matanza. Somos todos amigos e estamos
juntos desde o começo do Enterro.
8-
Bom... fontes seguras me disseram que você Nihil,
que é o vocalista do Enterro, tem uma frase “bordão”
que é: "quando falo de guerra e morte, falo
de algo que eu vivo", O que você quer dizer
com isso?
Não tenho autorização para
falar sobre esse assunto mas posso adiantar que minhas
munições não são réplicas
artesianas.
9-
O que vocês acham da cena Metal no Brasil, principalmente
da cena Black Metal?
Continua difícil como tudo que é
underground, mas acho também que não há
do que reclamar. Vejo muitas bandas realmente profissionais
desenvolvendo trabalho muito competente. Não faltam
shows internacionais, lançamentos de qualidade,
muitos selos e veículos de imprensa alternativa
em atividade...
10-
Em 20/03/2008 vocês tocaram no Hammer Rock Bar aqui
em Campinas, junto com Vader e Laconist. O que vocês
acharam da cena aqui do interior?
Sensacional! Aqui no Rio de Janeiro não
temos uma casa de show como o Hammer, por exemplo.
11-
Pelo que se sabe dos integrantes do Enterro, vocês
desprezam a vida na Terra. Então, me diga, quais
são as coisas que despertam apreço em vocês?
Que tipo que atividades além da banda, vocês
gostam de exercer?
O que acontece em nossas vidas pessoais não
é da conta de ninguém. Apenas o que diz
respeito ao Enterro é relevante.
12-
Vocês saíram de estúdio onde gravaram
o primeiro cd da banda. Quando estará disponível
nas lojas? Será distribuído por alguma gravadora?
Estamos esperando chegar da fábrica. São
apenas 500 cópias que pretendemos distribuir de
forma independente.
13-
Na capa desse cd, está ilustrado o Vaticano em
ruínas, sendo invadidas por hordas malignas, meio
que mostrando um mundo de devastação vinculado
com ‘eles’. Qual a verdadeira intenção
e idéia de vocês nessa capa?
O Vaticano é um dos pilares da natureza
corrupta do ser humano e representa o grande fracasso
de sua existência. Suas ruínas simbolizam
a guerra contra tudo o que é erguido em nome da
estupidez.
14-
o nome do cd é "nunc scio tenebris lux",
o que significa?
“Agora sei que das trevas vem a luz”
15-
Quais as maiores inspirações do Enterro?
Conceitualmente eu citaria Nargaroth e Judas Iscariot
mas, musicalmente, o som do Enterro é mais amplo
e vai de Marduk à Darkthrone, passando por Mayhem
e até Slayer.
16-
Como foi para vocês abrir para bandas como o Krisium
e Behemoth?
Temos muito respeito por todos que trabalham com
música extrema e se mostram excelente profissionais,
o que é uma grande prova de respeito e consideração.
Com essas pessoas nos sentimos muito bem. O Krisiun e
do Ocultan são ótimos exemplos disso.
Ai
galera, obrigada pela entrevista, e aguardamos um próximo
show de vocês por aqui! Valeu!
MIH Pereira
Grupo Metal Rise |